O PONTO CEGO DO DESEJO

Tem cara de galã, misturado com homem das cavernas. “Uma beleza exótica”, diriam algumas pessoas. Mas para ela o rapaz é bonito, e ponto. Parece um tanto tímido e tenta, em vão, ser blasè. Mas o olhar entrega, e é aí que os tímidos se desnudam: os seus olhos são brilhantes e nos encaram, sempre, com aquele pedido de “faça alguma coisa por mim!”. Ela não sabe onde fica o ponto cego do desejo, aquele ponto onde já não se consegue mais distinguir querer de admiração, mas desconfia que ele, o bonito rapaz, esteja na perspectiva cega do seu desejo. E por isso cumpre todos os rituais, funda todos os seus reinos, para pacientemente continuar à espera daquele que, timidamente, trará um pouco de cor à sua vida tão cinza.