quarta-feira, 14 de maio de 2008

CARTA À AMIGA

Sim, eu sei que estou sendo relapsa contigo. E sei também que meu pavio anda curto demais quando o assunto em pauta é o que você anda fazendo da SUA vida. Sabe... não resolvi lhe escrever essa carta por desencargo de consciência - antes disso - minha consciência está livre de qualquer encargo que uma situação dessas poderia acarretar. E é justamente por estar de “consciência limpa” que resolvi, depois de alguns dias remoendo algumas impressões, lhe escrever a respeito de suas atitudes. Talvez a forma como irei apresentar minha opinião não seja a mais delicada, nem discreta, mas por hora reservo-me ao direito de não criar justificativas para tal feito. Confie em mim, e no decorrer desta você acabará por entender o motivo de tanta “radicalidade”. O que posso dizer agora é: se estou escrevendo isso é porque tenho os meus motivos – e se esses são motivos de ordem altruísta ou não, aí já é assunto para outra carta...

O que tenho a dizer é simples, até, mas por ser algo que a princípio não me diz respeito achei de bom tom fazer uma introdução mais leve, correndo inclusive o risco de me tornar um tanto quanto prolixa.

Não é de hoje que percebo sua ânsia por justificativas... a todo momento elas aparecem – até em nossos diálogos mais rotineiros. Acredito mesmo que você só as faz por ter em mente a melhor das intenções. E também acredito que o fato de sermos amigas, se não irmãs, te deixa à vontade para discorrer sobre os seus motivos mil. Não julgo e muito menos condeno sua postura. Acho sim que você pode, e deve, fazer o que bem entender da sua vida. Tenho para mim que cada um é dono de si, do seu nariz, dos seus atos, e responsável pelos efeitos de todas as suas ações. Vivo procurando colocar em prática esse direito e essa liberdade que só adquiri quando tomei consciência de quem, e o que, sou. Por acreditar nesse direito e também por ter a clara convicção de que você, assim como eu, é dona do seu nariz, e que também já tomou consciência de que é alguém nessa vida, por tudo isso me dispus a meter o bedelho onde não fui chamada e lhe dizer algo que talvez nunca alguém tenha lhe falado: você, minha amiga, se justifica demais.

Explicar-me-ei para não parecer uma intrometida arrogante e prepotente (sim, eu também me justifico): para cada ato seu há uma justificativa na seqüência. Não sei, sinceramente, se você se justifica o tempo todo por não ter consciência de que todas as suas atitudes refletem imediatamente em você, antes de afetar qualquer outra pessoa. De qualquer forma vale lembrar que seus atos são a sua vida, o que você faz dela, e por isso mesmo, em um primeiro momento, só dizem respeito a você. Portanto, a única pessoa que realmente precisa saber dos seus porquês é você mesma, e ainda sim tomando o devido cuidado para com o teor das justificativas, e com algumas ressalvas para não correr o risco de cair no vício da autopunição. Da próxima vez que perceber que está prestes a criar mais uma justificativa, desencane da culpa e vá tomar um sorvete de chocolate. Dar de ombros, por vezes, nos liberta daquele eterno remorso do “será que fiz a coisa certa?”. Mas veja lá, hein! Só não vá sair por aí aprontando tudo o que lhe vier à cabeça só porque deu vontade e é livre: ainda temos, mesmo que capenga, um estado de direito onde a sua liberdade termina quando começa a do próximo.

Mas, de qualquer forma, “nos seus motivos”... acredite!

2 comentários:

TIAGO FERNANDES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
TIAGO FERNANDES disse...

Por alguns instantes pensei que tivéssemos tratando de uma amiga incomum, mas isso seria muita coincidência e, intuitivamente falando, creio que não. Porém, é inegável que sua carta parece ter sido escrita sob medida para uma amiga que eu tenho muito apresso, apesar de afastados. Espero que sua iniciativa lhe traga bons resultados!