sexta-feira, 9 de maio de 2008

A TRUCULÊNCIA NOSSA DE CADA DIA

Nem deveria estar comentando isso por aqui por ser demasiado pessoal e dizer respeito à minha intimidade enquanto membro de uma família. Mas não consigo, não consigo mesmo calar a minha boca e deixar as coisas passarem em branco...

Cena: três pessoas instruídas, bem intencionadas, um tanto quanto inteligentes e perspicazes estão conversando durante um jantar regado a vinho do bom:

- Queria mesmo é que aqueles dois lá, os tais "Nardonis", se danassem (o palavreado não foi bem esse) na cadeia. Tomara que os outros detentos mostrem a eles o que é bom pra tosse...

- Ah, é verdade. Que barbaridade, não, menina?

E a doida aqui, que vos escreve, só quieta acionando as engrenagens cerebrais...

- E tem outra, o cara nem é formado, porque ele tem cela especial?

- Ééé... então... ele é formado. Pelo que sei só não tem OAB. Por isso tem direito a cela especial.

- HUNF! Mas não deveria ter direito! Olha a barbaridade que ele cometeu!

O racional começou a falar mais alto. Não me aguentei. Duas senhoras de 60 anos na minha frente e a imbecil adolescente, eu mesma, desembesto a falar:

- Olha, eu concordo que estamos todos revoltados com tudo o que aconteceu. A barbaridade bateu à nossa porta, visto que o que aconteceu não diz respeito a uma criança de rua, abandonada, e sem ninguém que olhasse por ela. Aliás, isso acontece todos os dias, debaixo dos nossos olhos e nem damos a mínima. Mas fato é que, se lutamos tanto por um Estado de direito e fazemos um estardalhaço quando esse suposto direito não é colocado em prática, não tem cabimento sermos tão negligentes a ponto de desejar que os dois sejam punidos de forma violenta e por outros infratores. Dessa forma perdemos a oportunidade de colocar em prática nossas leis, mesmo que essas sejam falhas e decadentes, a despeito simplesmente da nossa sede insana e irracional de "justiça com as próprias mãos". Sou da opinião de que "olho por olho, dente por dente" e a humanidade acabará cega e banguela.

Silêncio...

- Mas então, menina, acredita que não conseguimos encontrar o sapato que ela queria?

Sinceramente? Acho que eu deveria ter calado a minha boca...

Um comentário:

Prensada disse...

Não entendo essa fúria por linchar e fazer justiça com as próprias mãos.
Que justiça é essa ??
Tô passada.