sexta-feira, 19 de setembro de 2008

ABRE ESSA JANELA, PRIMAVERA QUER ENTRAR...

Acredito que poucas pessoas festejam a mudança das estações, e eu sou uma dessas poucas. Adoro essa coisa de renovação, de troca, de mudança mesmo. Aliás, a mudança sempre me fascinou, qualquer uma. Quando era criança adorava acordar na casa nova. Não sei, mas tinha a impressão que até o cheiro das folhas e a luminosidade do sol eram diferentes. Minha mãe sempre me levava junto para escolher o imóvel, e sei que considerava e muito minha opinião: mãe, vamos ficar com essa casa, olha quantos passarinhos ficam sassaricando pelo nosso quintal! Ela ria, e devaneava coisas, e fechava o negócio – desde pequena tinha minhas pequenas opiniões, e desde pequena fui incentivada a dá-las e seguir sempre a minha vontade. Nessa época, a de menina, não tinha muita noção do que era a mudança no sentido filosófico da coisa. Talvez pressentisse, e por isso gostava tanto de mudar de casa, mas não sabia que mudança era uma palavra que fazia muito mais sentido do que apenas uma leva de móveis de um lugar para o outro. Hoje não gosto muito de mudar de casa, confesso. É que como sou eu quem cuida de toda a burocracia que a ação “mudar de casa” carrega junto de si, fico com uma preguiça danada de levar em frente uma empreitada que exigirá tempo e dedicação. Para compensar, mudo sempre de lugar os móveis do quarto e da sala e com isso já me satisfaço. Mas não era disso que eu queria falar...

A primavera está aí, apontando no horizonte. Ontem, voltando do aeroporto, reparei em alguns ipês roxos que já começam a dar o ar da graça na cinza São Paulo. Aliás, ontem agradeci como nunca o fato de morar na cinza São Paulo, mas que de vez em quando tem os seus rompantes de sensibilidade e nos presenteia com árvores tão lindas que dá até vontade de passar dias e dias admirando. Pior seria morar no sertão do Brasil, onde eu passei a semana, e constatar com tristeza que a seca é talvez a única “estação” do ano que aqueles miseráveis podem contemplar. Meu coração voltou seco.

Ontem ao entrar em casa percebi que já estava sozinha. Agora moro só e vou poder finalmente ter um gato. Acho que vai ser bom. Ou melhor, tenho certeza que será. Daí volto na questão da mudança: mais uma mudança em minha vida, e que não poderia ter vindo em momento mais oportuno. Estou amadurecendo e essa mudança de status quo contribuirá ainda mais para meus exercícios de isolamento do mundo – que são tão vitais para mim. Estou feliz, por assim dizer.

Espero ansiosa pela primavera que começa no domingo, ou segunda, e vou celebrar a mudança de mais uma estação. A dinâmica da vida é muito grandiosa, e basta ter um pouquinho de sensibilidade para perceber que as oportunidades se abrem e que nem sempre tudo está uma porcaria. Os ipês roxos, antes desfolhados, que o digam.

Um comentário:

Unknown disse...

Ah, eu também adoro as mudanças de estações e amei que tu vai ter um gato! :D