Tem dias que resolvo escarafunchar o meu baúzinho de memórias. Mexo aqui, reviro ali, vou olhando tudo o que tem lá dentro com uma minúcia ímpar. Quando encontro algo que me interessa, resgato-o do emaranhado de sensações e vivências e frustrações e realizações e alegrias e o coloco separado, em um canto do cérebro, com o objetivo de minuciá-lo um pouco mais. Como um ladrão que vasculha a bolsa da vítima em busca de objetos de valor, eu me empenho em trazer à tona o maior número possível de lembranças dos momentos que me tornaram a pessoa que sou hoje. Não posso dizer que me sinto realizada e satisfeita empenhando tal tarefa, uma vez que o ladrão também encontra dívidas onde deveria encontrar tesouros, mas a curiosidade e a necessidade são maiores que o medo. Pois bem, hoje fucei tanto, mas tanto, que encontrei uma pessoa que ficou perdida pelos caminhos da minha vida. Ao me lembrar de como foi que nos perdemos, e de como eu fui capaz de trocar a dúvida da reciprocidade pela certeza da preservação, foi que meu peito sentiu um aperto e minha garganta deu um nó. O coração disparou, de repente a vontade de rever a pessoa, e abraçar, e perguntar "ei, como vai você?", e não mais que de repente se perceber impotente e lamentar por não ter tido coragem, e... ops, alguma coisa não saiu conforme o esperado: o ladrão não encontrou o que queria e ainda estava correndo o risco de ser pego em flagrante. E então o que ele fez? Ele, esperto que é, jogou a bolsa em uma vala e saiu cantando pneus. E o que deveria ter um clímax e um final ficou assim, com jeitão de coito interrompido. Ou de broxada mesmo.
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