segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A TELA

Se artista fosse, hoje seria o dia em que minha arte atravessaria o papel e calmamente invadiria a realidade. Se soubesse pintar, provavelmente pintaria uma cabeça, aberta, escancarada, e dela sairiam, ao invés de sangue, letras e mais letras. Um rio, um mar de letras. Um esparramado de palavras. E essas letras escorreriam pelo corpo, que seria o algoz dessa cabeça, e pelo corpo elas percorreriam caminhos nunca antes desbravados. Essas letras seriam a expressão mais viva do passado, dos sonhos, das tesões, das culpas, dos fracassos, das virtudes, das vitórias. Elas seriam a cópia fiel das alucinações mais descabidas, das loucuras mais sensatas, dos desejos mais reprimidos, dos pensamentos impublicáveis e das vontades mais suicidas. E sendo essas letras tudo o que eu, como artista das telas, poderia expressar, elas fatalmente seriam a composição de tudo o que estivesse ao redor, tudo o mais que pudesse compor um quadro de arte: pessoas, paisagens, animais, pensamento, lirismo, ironia, entrelinha. E então, plena de mim, de minha obra de arte, tingiria a tela de um vermelho vivo, um vermelho sangue. Isso só pra mostrar que tudo nessa vida, inevitavelmente, sangra. Até uma cabeça cheia de idéias pretas e brancas.

2 comentários:

adri antunes disse...

tudo sangra, é verdade, mesmo que o sangue seja incolor, como uma lágrima! e hj só é terça....
um bjuuuu

Anônimo disse...

kd a alma prolixa?? volte a escrever, Bruna!