domingo, 25 de janeiro de 2009

UM SIM À VIDA

Considero corrupto um animal, uma espécie, um indivíduo, quando perde os seus instintos, quando escolhe e prefere o que lhe é prejudicial. Uma história dos "sentimentos sublimes", dos "ideais da humanidade" - e é possível que eu tenha de a contar - seria quase explicar porque é que o homem está tão corrompido.

Mas a própria vida é para mim o instinto de crescimento, de duração, de acumulação das forças, o instinto do poder; onde falta a vontade de poder, há degenerescência."
- Friedrich Nietzsche, "O Anticristo".


Ok, podemos interpretar essas duas frases sob diferentes pontos de vista e aplicar a idéia basicamente a tudo (acredito que esse seja um dos motivos pelo qual o meu querido bigodudo é tão mal interpretado - e mal compreendido), mas uma interpretação provavelmente é unânime: a de que o homem é, por natureza, um ser "instintivo" e possui plena capacidade de poder - plena dentro de sua condição humana, claro. O que nos faz, então, fraquejar diante de determinadas situações? E o pior: o que nos faz seguir um "rebanho" e continuar nessa caminhada que muitas vezes é meio lá, e meio cá?

"Princípio: somente os indivíduos sentem-se responsáveis. As coletividades foram criadas para realizar aquilo que o indivíduo não tinha coragem de fazer. É que todas as comunidades, sociedades, etc., são cem vezes mais sinceras e mais instrutivas quanto à natureza humana que o indivíduo, fraco demais para ter a coragem de seus desejos..." - Friederich Nietzsche, "Vontade de Potência".

Para Niettzsche, a soma das potências individuais constitui o grande poder do grupo social, porque o indivíduo é menos ingênuo quando em sociedade. O que fazer então para que a nossa potência individual trabalhe a nosso favor antes mesmo de agregar valor ao poder coletivo, evitando assim que ela perca sua característica principal que é a de contribuir para o nosso crescimento pessoal?

Nada existe fora do Todo, e o Todo, para Nietzsche, é a Vontade de Potência em ato, como Lei Natural, como vida e Eterno Retorno. Se a vontade de potência está presente em cada indivíduo antes mesmo desse indivíduo fazer parte de um grupo, uma sociedade, é natural que essa vontade esteja à mercê das revelias da sua vida individual. Cabe então, a cada um de nós, direcioná-la de forma a se tornar uma vontade forte o bastante para superar todos os revezes da vida - e não apenas amaldiçoá-la, como costumeiramente fazemos. Se aprendermos a superar os contrários sem maldizer as circunstâncias, racionalmente conseguiremos compreender o que se passa e ao fim de um ciclo de alternâncias (felicidade/infelicidade, alto/baixo, alegrias/tristezas, etc. - Eterno Retorno), com base nas experiências vividas, internalizadas de forma racional e agregadas ao nosso "patrimônio da potência", finalmente alcançaremos a nossa "melhora" individual. E fazendo parte de um grupo, naturalmente melhoraremos por extensão a sociedade em que vivemos.

O Eterno Retorno significa a periodicidade cíclica em tudo o que acontece aos indivíduos - seja internamente ou externamente. Esse Eterno Retorno é caracterizado pela alternância de fases que são, em quase a totalidade, determinadas historicamente. Somente os espíritos mais fortes, e livres, conseguem enfrentar e aceitar com naturalidade todas as idas e vindas da vida - as "voltas do mundo" de cada indivíduo, por assim dizer. Através dessa "aceitação" é que desenvolveremos nosso espírito para que ele rume ao cume mais alto, e a cada passo dessa caminhada saberemos que esse cume é longe, muito alto, difícil de ser alcançado e efêmero, muito efêmeremo. Uma vez no cume, alcançaremos o "Grande Meio-dia", que é a consequência da teoria do Eterno Retorno. É nesse momento que gozaremos de nossa plenitude de força.

Como seres evoluídos, e já conscientes dos períodos de pico e de baixa que se dão através dessas alternâncias, estaremos então coniventes com essa tragédia e cientes de que ela nos impulsionará à superação de nós mesmos. O desafio será encarar de frente a vida, cruamente, sem retoques ou palavras de efeito moral. Sem muletas (entre elas a significação de Deus como sendo a causa última de segurança), sem maniqueísmos, sem preconceitos, com coragem e cientes de que todo o homem tem a sua porção de mesquinho, de amoral, de egoísta. Através dessa superação atingiremos o que Nietzsche chamou de Übermensch, ou Super-Homem, que pode ser entendido, superficialmente, como um processo contínuo de superação, onde cada homem - e somente ele - poderá fazer suas escolhas e optar por elas, sejam elas boas ou más, e assim contribuir para a transvalorização de todos os valores - onde valores antigos e arcaicos, centrados na religião e no metafísico, cedem espaço para novos valores, esses redigidos e assinados pelo próprio homem. Através desse processo entenderemos que o que realmente importa é a busca final pelo devir, pelo futuro risonho, equânime, superadas todas as vicissitudes de um aprendizado longo e doloroso mas, em sua "tragédia", magnífico.

"O Eterno-Retorno - quero ensinar o pensamento que dará a muitos homens o direito à própria supressão, o grande pensamento seletivo." Nietzsche


PS: PARABÉNS SÃO PAULO POR SE SUPERAR A CADA DIA, E A CADA DIA RENASCER DOS SEUS REVEZES... EU ME ORGULHO DE FAZER PARTE DE SUA HISTÓRIA...

16 comentários:

Anônimo disse...

"A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez."

Nietzsche

Pattiê, disse...

"Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo os seus equívocos"

Nietzsche

;-)

Anônimo disse...

"Uma vez tomada a decisão de não dar ouvidos mesmo aos melhores contra-argumentos: sinal do caráter forte. Também uma ocasional vontade de se ser estúpido."

Nietzsche

Pattiê, disse...

"É mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação"

Nietzsche

Pattiê, disse...

ou então:

"Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos"

Nietzsche

;-)

Anônimo disse...

"Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti."

Nietzsche

Anônimo disse...

"Quem se despreza a si próprio não deixa mesmo assim de se respeitar como desprezador"

Nietzsche

Pattiê, disse...

"O homem precisa daquilo que em si há de pior se pretende alcançar o que nele existe de melhor."

Nietzsche

Pattiê, disse...

"Quando se amarra bem o próprio coração e se faz dele um prisioneiro, pode-se permitir ao próprio espírito muitas liberdades."

Nietzsche

Anônimo disse...

"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras"

Nietzsche

Anônimo disse...

"Os leitores extraem dos livros,consoante o seu carácter,a exemplo da abelha ou da aranha que,do suco das flores retiram,uma o mel,a outra o seu veneno."

Nietzsche

Anônimo disse...

O ultimo publicado 3 vezes, a conviccao foi tanta, que foi postado 3 vezes.

Pattiê, disse...

"Saber é compreendermos as coisas que mais nos convém."

Nietzsche

Hehehe...

Pattiê, disse...

"Quanto mais abstrata for a verdade que queres ensinar, mais tens que seduzir os sentimentos a seu favor."

Nietzsche

Anônimo disse...

"Temos a arte para não morrer da verdade."

Nietzsche

Anônimo disse...

"Morrer é duro. Sempre senti que a única recompensa dos mortos é não morrer nunca mais".

Nietzsche