quinta-feira, 16 de abril de 2009

APROVEITANDO DA (TRANS)PIRAÇÃO ALHEIA

No Elevador do Filho de Deus (Elisa Lucinda)

A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida que eu já tô ficando craque em ressurreição. Bobeou eu tô morrendo. Na minha extrema pulsão. Na minha extrema-unção. Na minha extrema menção de acordar viva todo dia.

Há dores que sinceramente eu não resolvo, sinceramente sucumbo. Há nós que não dissolvo e me torno moribundo de doer daquele corte do haver sangramento e forte que vem no mesmo malote das coisas queridas. Vem dentro dos amores, dentro das perdas de coisas antes possuídas, dentro das alegrias havidas. Há porradas que não tem saída, há um monte de "não era isso que eu queria".

Outro dia, acabei de morrer depois de uma crise sobre o existencialismo, 3º mundo, ideologia e inflação... E quando penso que não, me vejo ressurgida no banheiro feito punheteiro de chuveiro. Sem cor, sem fala ,nem informática nem cabala, eu era uma espécie de Lázara, poeta ressucitada, passaporte sem mala com destino de nada! A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida, ensaiar mil vezes a séria despedida, a morte real do gastamento do corpo, a coisa mal resolvida daquela morte florida cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos, cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos, que já to ficando especialista em renascimento.

Hoje, praticamente, eu morro quando quero: às vezes só porque não foi um bom desfecho ou porque eu não concordo. Ou uma bela puxada no tapete ou porque eu mesma me enrolo. Não dá outra: tiro o chinelo... E dou uma morrida! Não atendo telefone, campainha... Fico aí camisolenta em estado de éter nem zangada, nem histérica, nem puta da vida! Tô nocauteada, tô morrida! Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa não tem aquela ansiedade para entrar em cena. É uma espécie de venda, uma espécie de encomenda que a gente faz pra ter depois, ter um produto com maior resistência onde a gente se recolhe (e quem não assume nega) e fica feito a justiça: cega.

Depois acorda bela, corta os cabelos muda a maquiagem, reinventa modelos, reencontra os amigos que fazem a velha e merecida pergunta ao teu eu: "Onde cê tava? Tava sumida, morreu?" E a gente com aquela cara de fantasma moderno, de expersona falida: - Não, tava só deprimida.

Um comentário:

Helena Pessin disse...

Olá Pattie,
Nesta vc se superou ! Adorei! Tenho acompanhado teu trabalho em silêncio mas hoje resolvi postar um comentário e te parabenizar . Sou amiga da Prensada ,
Helena