domingo, 19 de abril de 2009

MY BLUEBERRY NIGHTS x COLATERAL

Dois filmes de uma só vez. Num gole só. E dois socos no estômago, em diferentes lugares.

Parênteses: vou logo adiantando que sou péssima com filmes. Péssima. Me convide pra assistir um lançamento no cinema e espere por uma desculpa (bem) esfarrapada. Odeio lançamentos. Odeio cinemas lotados. E odeio tudo o que se refere a "estar antenado com as últimas tendências". Tendências são para pessoas que tendem a alguma coisa. Eu, pelo contrário, não tendo a nada. A não ser para a velha (e boa) mania de maldizer tudo o que se refere ao que eu não gosto. Ok, tenho tendência ao antiquado, e à rabugentice, pelo visto. But... who cares? I don't care, anyway... (Fecha parênteses).

Mas, voltando... dois filmes.

Um dos filmes mostra dois caras em seus respectivos trabalhos, e que numa noite (in)felizmente se cruzam. Dois homens. Paradoxalmente iguais. Paradoxalmente diferentes. Um matador e um taxista. Ambos fazendo o seu trabalho, com primazia. Ambos com suas convicções, e porque não dizer?, ambos com seus sonhos. Duas pessoas, alguns diálogos e uma verdade incontestável: nós nunca estaremos a salvos de nós mesmos. Nunca. Seremos nossos próprios algozes, pelo resto de nossas vidas. Seja por problemas da infância, seja por autosabotagem, seja por comodismo. Levaremos sempre a mesma vidinha, predestinados a sermos exatamente aquilo que imaginamos que somos - nem mais, nem menos. Porém, se tivermos sorte, alguém surgirá em nossas vidas e com seu modo de pensar a vida, e seu modo de agir para com a vida, mudará... mudará? não, vou reformular... aparecerá essa pessoa, com seu modus operandi pessoal, e nos mostrará o outro lado daquela verdade que nós achavámos que estava tão bem escondida dentro de nossas profundezas. Ou então nos mostrará que aquele nosso jeito de agir - tão característico e que já tem a nossa marca pessoal - aquele jeito é, na verdade, uma fuga para a forma como realmente gostaríamos de agir. Acho que Colateral aborda o tema da autoindulgência (mas sem tocar no assunto, e portanto subjetivamente). Da forma como nos tornamos compreensivos com nossos medos, como vamos apenas vivendo uma mentira aqui, outra ali, e graças a essas mentiras vamos sobrevivendo sem nem vermos o tempo passar. Bem, imagino que não será nada fácil chegar ao final da vida e perceber que o tempo passou, e que mentir pra si mesmo foi o pior dos equívocos que se poderia ter cometido durante todo o trajeto. Ou então morrer ali, na esquina, sem nem ter feito metade das coisas que se queria fazer a cada instante em que se respirou. Sem nem ter desfrutado dos finais felizes que foram imaginados dentro daquela cabeça sonhadora e que se repetiam, feito música boa de ouvir que passa o dia no repeat.

O segundo filme é mais light. Um romance. Gostoso de ver e ouvir. Acho que o adquiri no ano passado, mas ainda não havia chegado o momento de assistí-lo... Uma moça, de coração partido (e que moça, meu deus, já não teve seu coração partido uma vez na vida?), solitária e sensível. Uma moça com toda a sua juventude, o seu viço. Com sede de viver. Um pouco perdida devido a sua falta de autoconhecimento, mas disposta a se encarar. A se olhar no espelho e se perceber. Diante da oportunidade de ser feliz novamente - e também da oportunidade de correr o risco de, mais uma vez, ter seu coração partido - ela decide atravessar a sua rua pessoal e deixar que a felicidade a espere, enquanto ela, sozinha, parte em busca de uma resposta. A moça cruza o país, e o que encontra pelo caminho? Pessoas complexas, cada uma vivendo seus dramas, e cada uma desenrolando a vida da melhor forma: do seu próprio jeito. E então ela percebe que às vezes dependemos do Outro como um espelho para que definam e digam quem somos. E que o Outro nem sempre tem as respostas que precisamos, pois na maioria das vezes as respostas não existem. O que existe são momentos e que depende de cada um confiar ou não nesses momentos. Depende de cada um se deixar levar, ou simplesmente continuar no mesmo lugar, levando a mesma vidinha. Pois bem... a moça atravessa país inteiro, conhece pessoas, vive experiências, troca sentimentos e volta, com uma certeza: a de que cada reflexo daqueles espelhos a faz gostar um pouco mais de si mesma... E descobre que não se precisa ir muito longe para desfrutar das coisas boas da vida. E essas "coisas boas da vida" estarão, às vezes, em tortas de Blueberry e em beijos roubados, em uma noite qualquer... desde que estejamos com as portas abertas para recebê-las.


PS: Paulo Tarso, agora sim eu posso devolver seu filme... ;-)

Um comentário:

ju disse...

HAHAHAHAHAHA
eu tb odeio tendências!!!!