"E esse - interveio sentenciosamente o Diretor - é o segredo da felicidade e da virtude: amar o que se é obrigado a fazer. Tal é a finalidade de todo o condicionamento: fazer as pessoas amarem o destino social a que não podem escapar."
"- A população ótima - disse Mustafá Mond - obedece ao modelo do iceberg: oito nonas partes abaixo da linha de flutuação e uma nona parte acima dela.
- E são felizes os que estão abaixo da linha de flutuação?
- Mais felizes do que os que estão acima dela."
"- Então, por que motivo o senhor não está numa ilha?
- Porque, no fim das contas, preferi isto - respondeu o Administrador. - Deram-me a escolher: ser mandado para um ilha, onde poderia continuar dedicando-me à ciência pura, ou ser admitido no Conselho Supremo, com a perspectiva de ser promovido oportunamente a um posto de Administrador. Escolhi isto e abandonei a ciência. - Depois de um pequeno silêncio, acrescentou: Às vezes lamento haver renunciado à ciência. A felicidade é um soberana exigente, sobretudo a felicidade dos outros . Uma soberana muito mais exigente do que a verdade, quando não se está condicionado para aceitá-la sem restrições. - Suspirou, tornou a calar-se, e logo recomeçou, com mais vivacidade: Enfim, o dever é o dever. Não se pode consultar as preferências pessoais. Interesso-me pela verdade, amo a ciência. Mas a verdade é uma ameaça, a ciêncía é um perigo público. Ela é actualmente tão perigosa como já foi benfazeja. Deu-nos o equilíbrio mais estável que a história registou. O da China era, em comparação, desesperadamente pouco firme; até os matriarcados primitivos não estavam tão firmes como nós o estamos. Graças, repito-o, à ciência. Mas não podemos permitir à ciência que desfaça o bom trabalho que realizou. Aqui está porque estabelecemos com tanto cuidado os limites das suas investigações, eis porque estive prestes a ser enviado para uma ilha. Apenas lhe permitimos que se ocupe dos problemas mais urgentes do momento. Todas as outras pesquisas são cuidadosamente desencorajadas. É curioso - continuou depois de uma curta pausa - ler o que se escrevia na época de Nosso Ford acerca do progresso científico. Parece que pensavam que se lhe podia permitir que se processasse indefinidamente, sem consideração por qualquer outra coisa. O saber era o deus mais alto, a verdade o valor supremo. Tudo o mais era secundário e subordinado. É verdade, também, que as ideias começaram a modificar-se a partir dessa época. Nosso Ford fez muito para tirar à verdade e à beleza a importância que lhe concediam, transferindo essa importância para o conforto e para a felicidade. A produção em massa exigia esta transferência. A felicidade universal mantinha as engrenagens em funcionamento muito regular, a verdade e a beleza não eram capazes de tal. E, esclareça-se, cada vez que as massas se apoderavam do poder político era a felicidade, mais que a verdade e a beleza, o que importava. Todavia, e apesar de tudo, as investigações científicas sem restrições eram ainda autorizadas. Continuava-se sempre a falar da verdade e da beleza como se fossem os bens supremos. Até à época da Guerra dos Nove Anos, que os forçou a falar noutro tom, posso garantir-lhes! Que sabor podem ter a verdade ou a beleza quando as bombas de antracite rebentam à nossa volta? Foi então que a ciência começou a ter as rédeas apertadas, depois da Guerra dos Nove Anos. Nesse momento as pessoas estavam até dispostas a deixar encurtar as rédeas ao apetite. Fosse o que fosse, desde que pudessem viver sossegadas. Desde então continuamos a apertar as rédeas. Isso não foi lá grande coisa para a verdade, claro. Mas foi excelente para a felicidade. É impossível conseguir-se alguma coisa por nada. A felicidade tem de ser paga. O senhor paga, senhor Watson, o senhor paga porque me parece que se interessa excessivamente pela beleza. Eu interessava-me muito pela verdade. Por isso também paguei. - Mas o senhor não foi para uma ilha - disse o Selvagem, quebrando um longo silêncio. O Administrador sorriu. - Foi desta forma que eu paguei. Escolhendo servir a felicidade. A dos outros, não a minha. Ainda bem - acrescentou depois de um silêncio - que há tantas ilhas no mundo. Não sei que faríamos sem elas. Seríamos obrigados a metê-los todos na câmara de gás, suponho. A propósito, senhor Watson, agradar-lhe-ia uma ilha de clima tropical? As Marquesas, por exemplo? Ou Samoa? Ou ainda qualquer coisa mais excitante?"
Trechos de "Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley".
4 comentários:
;)))
Sem tempo pra chutar pedrinha(comentar)...
mas feliz feliz feliz!!
"Moro num país tropical"
Bancarrota Blues
Chico Buarque
Composição: Edu Lobo / Chico Buarque
Uma fazenda
Com casarão
Imensa varanda
Dá gerimum
Dá muito mamão
Pé de jacarandá
Eu posso vender
Quanto você dá?
Algum mosquito
Chapéu de sol
Bastante água fresca
Tem surubim
Tem isca pra anzol
Mas nem tem que pescar
Eu posso vender
Quanto quer pagar?
O que eu tenho
Eu devo a Deus
Meu chão, meu céu, meu mar
Os olhos do meu bem
E os filhos meus
Se alguém pensa que vai levar
Eu posso vender
Quanto vai pagar?
Os diamantes rolam no chão
O ouro é poeira
Muita mulher pra passar sabão
Papoula pra cheirar
Eu posso vender
Quando vai pagar?
Negros quimbundos
Pra variar
Diversos açoites
Doces lundus
Pra nhonhô sonhar
À sombra dos oitis
Eu posso vender
Que é que você diz?
Sou feliz
E devo a Deus
Meu éden tropical
Orgulho dos meus pais
E dos filhos meus
Ninguém me tira nem por mal
Mas posso vender
Deixe algum sinal
Deixe algum...
;)))
AHÁ, achei você =)
achei vc =) (2)
nao consigo comentar =/
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