Hoje acordei com saudade do que não fui. Da pessoa que poderia ter sido e por negligência, por impotência, por preguiça ou por pura falta de sensibilidade, não fui. Hoje acordei com saudade dos abraços que não dei, das palavras de carinho e afeto que não pronunciei e das vontades todas que não matei. Hoje, enquanto almoçava, pensei nas bebidas que não experimentei, nos doces aos quais renunciei e nas comidas exóticas que não provei. Ando às voltas com tudo o que, por displicência, não me compõe.
Os sonhos que não foram meus, os passos que foram trocados pelos que dei e os horizontes que não enxerguei, nada disso me compõe. Os amores que não quis viver, os sexos que não fiz e os beijos que não roubei, tudo isso faz parte do que não sou. Não me arrependo das escolhas que fiz, mas sinto falta daquelas as quais não consegui ou não pude fazer.
As lutas que não venci e as perdas que não foram minhas, nada disso sou eu. As cartas que não escrevi e as que não recebi - nenhuma delas traçou uma linha sequer do livro da minha vida. Os amigos que não fiz e os inimigos que não cultivei, as férias que não tirei e as ondas que não pulei, tudo faz parte de um esboço forjado de mim.
Olhando pela janela do meu mundo enxergo todas as minhas não-escolhas. Elas estão do lado de fora da brincadeira, e mesmo que não façam parte do que sou, ajudaram na construção do que me tornei. Porque tudo o que existe só existe porque algo escolheu não existir. E o que hoje não sou deve-se ao fato de que algo em mim escolheu não ser.
Porque algo em mim escolheu não ser.
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