sexta-feira, 23 de julho de 2010

UM POUCO DE EDUCAÇÃO PARA A POLÍTICA E TOLERÂNCIA NÃO FARIA MAL A NINGUÉM


O liberalismo econômico não vem necessariamente acompanhado de um liberalismo comportamental. Se viesse, pelo menos seria um prêmio de consolação diante da barbárie do “salve-se quem puder”. (Leonardo Sakamoto)


Você votaria em alguém que defende o casamento gay?
Por Leonardo Sakamoto: http://blogdosakamoto.uol.com.br/

De Medellín, Colômbia – Está aberta a temporada de caça aos direitos do cidadão! Ou, em outras palavras, começou a campanha eleitoral.

Já estava resignado de que o Brasil não conhecerá mudanças no seu modelo de desenvolvimento nos próximos quatro anos tendo em vista o leque de opções de candidaturas com chances reais que temos em mãos. Ganhe quem ganhar, a busca pelo progresso custe a quem custar vai continuar sendo a tônica no país. Afinal de contas, nenhum dos candidatos topará comprar uma briga para tentar civilizar práticas do mercado e do agronegócio que, hoje, tornam a vida de um número não desprezível de povos e trabalhadores no campo um inferno. Pelo contrário, se seguirem a toada de hoje, vão fechar os olhos se isso gerar resultados econômicos no curto prazo. Laissez faire, laissez aller, laissez passer!

O liberalismo econômico não vem necessariamente acompanhado de um liberalismo comportamental. Se viesse, pelo menos seria um prêmio de consolação diante da barbárie do “salve-se quem puder”. Na prática, coloca-se abaixo qualquer regra que pode fazer com que a economia não vá tão rápido quanto possível (Abaixo o Código Florestal! Viva o celacanto que provoca maremoto!), mas se mantém todas as normas bizantinas de convivência. O dinheiro é livre, as pessoas, não.

Estou acompanhando, mesmo de longe, as entrevistas com os candidatos à presidência pela TV Brasil. Como gostaria que um(a) deles(as) tivesse a coragem de vir a público e defender, sem meias palavras, sem legalismos, sem se esconder atrás de rodeios linguísticos, que defende o direito das pessoas de serem elas mesmas e de poderem usufruir da liberdade de decidir a própria vida. Sobre o casamento gay, Serra disse que o Estado não tem que mexer nessa área, Dilma disse que apóia a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Mas nada de falarem de matrimônio legal, como na avançada Argentina aí do lado.

Esse é o problema de guiar uma campanha por pesquisas de opinião e não por um conjunto de propostas programáticas. Verifica-se qual a posição da maioria e ripa na chulipa. São feitas rodadas de discussão qualitativas para buscar as características do candidato ideal, semelhante àquelas dos consumidores que são chamados para discutir o iogurte, a TV de plasma ou a pasta de dente perfeitos. A diferença é que o que estão em jogo são cargos públicos e não a venda de um produto. Ou não. No meio do caminho, rifa-se a possibilidade das minorias terem seus direitos respeitados.

Em 2007, uma pesquisa Datafolha apontou que 55% dos brasileiros defendiam a adoção da pena de morte, 57% eram contra a eutanásia (o direito do paciente terminal de pôr fim à sua própria vida), 65% defendiam que a lei do aborto não fosse ampliada para além dos casos de estupro e risco para a mãe, 49% rejeitavam a união civil homossexual (ou seja, a maioria, uma vez que 42% eram a favor) e 52% eram contrários à adoção de filhos por casais do mesmo sexo. Junte a isso que a maioria da população defende a posse de armas de fogo (taí o resultado do plebiscito do desarmamento para não me deixar mentir), o apoio à redução da maioridade penal, à prisão perpétua, à manutenção do uso de drogas como delito e por aí vai

Também há três anos, uma pesquisa encomendada pela revista Veja à CNT/Sensus mostrou que 84% dos brasileiros votariam em um negro para presidente da República, 57% dariam o voto a uma mulher, 32% aceitariam votar em um homossexual e 13% votariam em um candidato ateu.

Parece que, para ser candidato nesta eleição, é necessário se despir de qualquer opinião própria e desistir de ser si mesmo para seguir um gabarito a fim de que a maioria dos eleitores se reconheça nele e dê seu voto. Mas é isso o que se espera de um bom candidato, que seja alguém à minha imagem e semelhança e não uma liderança política que possa governar o país? Devo dar meu voto a alguém que pense exatamente como eu ou que possa levar o país a um novo patamar de civilidade e de qualidade de vida para todos? O que é democracia? Um governo totalitário da maioria ou um governo da maioria em que as minorias são respeitadas?

Um pouco de educação para a política e para a tolerância não faria mal a ninguém.

Em uma guerra, a verdade é a primeira vítima. A frase, que virou história e é citada ad nauseam em faculdades de jornalismo, foi dita originalmente pelo senador norte-americano Hiram Johnson em 1917. Ela serve, como uma luva, para a guerra pelo voto. Até porque não acredito que essas posições conservadoras dos candidatos prevaleçam. Teremos que esperar 2011 para saber se vão apoiar o direito ao aborto ou mesmo o casamento gay ou darão as costas para políticas de efetivação dos direitos humanos. O eleitor reclamará que foi enganado mas, no fundo, ele também foi cúmplice nesse teatro.

4 comentários:

Renata (impermeável a) disse...

Sabe.... menina, para mim, que tive acesso a educação e cultura, casamento entre gay é uma coisa tão comum, que nem acho que deveria dar tanta polêmica. Por isto, que acho este discussão pisa na maior delas, este povo precisa de educação ou pelo menos QUALIFICAÇÃO, para o seguinte passo, a cultura.
Se não parar tudo neste segundo, e educar..... não sei o que vai ser.

De resto, acho que esta se tornando o pais mais caro no mundo... meus amigos que moram ou saem do pais, ficam indignados com a qualidade de TUDO fora daqui em comparaçao com o valor que pagamos aqui.

Anônimo disse...

Uau!!!

Amei o texto...
Lúcido e separando tudo direitinho, dando os devidos lugares.

Vou ler algumas vezes.

bjo.
ass.: sua professora de balé.
rs

A(quela): disse...

A questão do casamento gay e outros temas correlacionados aos mesmos tem um certo dado obvio mas escancaradamente ignorado pela maioria, que se embasa em preceitos morais e religiosos: a população homossexual existe e é imensa. Isso é um fato.
Portanto, é lógico que o Estado e seus representantes devam assegurar políticas públicas que resguardem os direitos destes.
Isso não tem nada a ver com acreditar que “deus fez o homem para a mulher e a mulher para o homem”.
Pra variar (rs), adorei seu texto!
Peço permissão para indicá-lo a alguns amigos que, assim como eu, também irão adorar lê-lo!
Grande abraço e parabéns!

Alessandra A.

Pattiê, disse...

Oi meninas, obrigada pelos comentários...

Alessandra, uma ressalva: o texto não é meu, é do Leonardo Sakamoto! rsrs... Ele é colunista do UOL e mantém um blog no site. O link para o blog dele é: http://blogdosakamoto.uol.com.br/

Beijos