POSTADO ORIGINALMENTE AQUI MESMO EM 15 DE MARÇO DE 2008, MAS CONTINUA VALENDO - ATÉ PELO FRIO QUE RESOLVEU DAR AS CARAS HOJE E ENTROU POR DEBAIXO DA PORTA DA SALA, POR INCRÍVEL QUE PAREÇA!
E tem aquela musica ao fundo, instrumental. É bonita, melancólica. O frio entra pelo buraquinho que fica entre o chão e o final da porta... É cinza o dia, mas eu vi alguns sorrisos coloridos. E olhos cor de mel. A música continua, mas dessa vez mudou o tom: está catastrófica. Parece que pressente o mar transbordando no cômodo ao lado. O frio continua entrando por debaixinho da porta. Intromissão, essa é a palavra. Mas eu deixo, não ligo para intrometidos, desde que não se demorem muito. Estou na ante-sala de espera da vida. Minha casa está fria e a música continua. Descobri que apanho um pouco das palavras quando quero que elas não façam sentido. Elas fogem. Acho que as palavras gostam de organização, de serem dispostas em lugares estratégicos, e que as façam fazer algum sentido. Eu não gosto do sentido. Aliás, tudo para mim tem que ser sem sentido, até que alguma coisa faça sentido. Difícil entender? Mas não é pra entender, é apenas para sentir... Pronto, contei meu segredo: não entender, apenas sentir. Eu conheço uma pessoa que não acredita na minha sensibilidade. E não entende a minha racionalidade. Já tentei explicar que razão e sensibilidade caminham na mesma rua, mas ela não acredita em mim. A minha razão é amarela, e minha sensibilidade vermelha. Amo do avesso. Amo o outro lado, o lado inconfessável. A música voltou, havia parado. Agora ela tem um tom de saudade. É gostosa de ouvir. Acho que se minha ante-sala da vida tivesse espaço, eu sairia dançando a melodia da saudade. O dia hoje está concreto. Apesar dos sorrisos coloridos e dos olhos cor de mel, o dia foi assim, duro. O vento gélido, e meu corpo sentindo frio. A parte dele que mais sentiu frio foi a minha alma. Alma faz parte do corpo? Faz sentido isso? Não importa. Hoje eu tenho uma saudade. É gostoso sentir saudade. Às vezes sinto saudade do que poderia ter sido, e por pura teimosia não fui. Tenho saudade das minhas partes, quando elas se perdem. Aí fica um derramado de mim no chão, toda sem partes, faltando sempre algum pedaço que eu nunca sei onde coloquei. Minhas partes me fazem falta. Mas só às vezes. Tem dias que gosto de ser pela metade, apesar de sempre continuar inteira. Eu me exagero e me excluo o tempo todo, mas sou sempre inteira. Apesar das partes dispersas... Eu não gosto de escritos longos e sem sentido, mas como eu não me incomodo se quem vai ler vai se incomodar, eu continuo a escrever. As pessoas deveriam ser assim: continuar, apesar do que “os outros” vão dizer. Mas seriam os outros dizendo, ou a própria consciência da pessoa? Bingo! Ninguém faz nada pensando nos outros. Nunca. Não, eu não sou uma pessoa amarga, nem rancorosa, muito menos invejosa (tenho muitos defeitos pra invejar o dos outros), mas eu descobri o segredo das pessoas “felizes”: elas não fazem, nem deixam de fazer, qualquer coisa pensando nos outros. Os outros serão quem, hein? Já me perguntei isso uma vez. Acho que nunca vou ter a resposta. Os outros são os outros, e ponto final. Continuo escrevendo sem sentido. É gostoso, mas uma hora cansa. A tia Clarice já dizia que o pensamento é o melhor jogo que alguém pode possuir. Mas, por outro lado, ela também alertava sobre como o pensamento pode se tornar no jogador, e o pensador no instrumento, no jogo. Todo cuidado é pouco. Aliás, cuidado é uma palavra que não deveria existir: sempre tem alguém metendo o bedelho no seu cuidado. Como os outros podem saber o que é perigoso para quem quer que seja, se não para ele mesmo, o outro? Confuso? Pensa assim: como alguém pode ter a pretensão de alertar outra pessoa sobre os cuidados que ela poderia tomar? Cuidados a tomar? Só se for para tomar o devido cuidado de sempre morrer de amor, não de outra coisa. Mas não, as pessoas, os outros, sempre nos aconselham justamente a fazer o contrário: morra de um ataque fulminante do coração, mas pelo amor de são crispim, não morra de amor! Tsc tsc... Estou retomando minhas partes perdidas. A música continua tocando, é linda. A saudade já se alojou aqui dentro. É dona, posseira da minha vontade. O dia duro e frio está acabando. A música que começou a tocar agorinha mesmo me faz chorar. Chorar de alguma coisa que não sei o nome, pois não é tristeza nem alegria. Acho que é de saudade. É, a saudade do que nunca fui anda me deixando sentimental. É a vida, é a vida...
Em tempo: como eu faço pra ir embora e esquecer de me levar junto, é possível? E só porque a saudade disso tudo aqui me cortaria é que tenho o desejo de ir e não me levar... Eu não suportaria.
Em tempo: como eu faço pra ir embora e esquecer de me levar junto, é possível? E só porque a saudade disso tudo aqui me cortaria é que tenho o desejo de ir e não me levar... Eu não suportaria.
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