segunda-feira, 16 de março de 2009

CARTA AO AMIGO

Meu sempre amigo,

Em outros tempos eu começaria essa carta com uma frase de efeito bem porreta que te faria entender, sem muito esforço, o que eu provavelmente escreverei daqui pro final - a sensação de ter uma segunda-feira livre só para mim e sem compromisso, a falta que eu sinto da sua companhia, o efeito que o álcool do final de semana causou no meu organismo e o pensamento TOCado de que um dia ainda morarei em Paris.

O chuveiro queimou e eu passei uma semana tomando banho frio e acho que isso congelou meus neurônios (não, eu não sei trocar resistência de chuveiro). Em contrapartida, agora tenho tempo de divagar sobre todos os assuntos pelos quais eu apenas podia, quando não tinha tempo, pincelar uma ou outra opinião a respeito - bem, se meus neurônios não estivessem congelados aproveitaria melhor o tempo e as divagações, você há de convir comigo. De qualquer forma ainda tenho mais tempo livre do que todo aquele que desejei ter quando as coisas estavam pesadas demais pro meu lado.

Ando relapsa com as circunstâncias. Ando relapsa com as vontades alheias e ando relapsa com tudo o que chega a mim de forma pretensiosa - deixei de lado a loucura de ponderar a respeito de tudo e passei a viver mais, e melhor. Ainda não atingi aquele ponto utópico onde simplesmente damos de ombro para os acontecimentos que fogem ao nosso controle, mas posso te dizer que já consigo erguer meus ombros até à metade do movimento (me desculpe a crase, mas fiquei na dúvida se ela deveria existir na expressão e optei por incluí-la) e continuar caminhando lentamente ao encontro dos acontecimentos sem precisar, necessariamente, agarrá-los com unhas e dentes.

O cair dessa tarde está mais gelado que todos os outros caires de tarde que já tivemos nesse ano (que eu me lembre), e dessa forma posso concluir que talvez seu final de dia tenha sido mais agradável que todos aqueles outros que você andou reclamando tempos atrás. Acho que o verão, finalmente, começa a se despedir - dia 21 de março está quase aí.

Comprei uns filmes na semana passada, mas aquele com o qual você me presenteou no final do ano continua em primeiro lugar na fila dos "filmes que um dia eu vou sentar/deitar pra assistir". Livros eu já li uns dois, desde o dia que me dei férias - não tem jeito, eu flerto melhor com a palavra escrita. Preciso agora comprar as apostilas e sentar o rabicó na cadeira a fim de estudar, estudar e estudar. Para isso preciso da sua ajuda: existe a possibilidade de colocarmos um cadeado nas minhas estantes para que eu não me deixe seduzir por uma "Clarice da vida"? Se você puder me ajudar, agradecerei.

É, eu sei que estou falando muito de mim, mas é que essa carta tem o objetivo único e exclusivo de te contar como estou, já que você me ligou perguntando se eu enlouqueci de vez... Não, eu não enlouqueci. Pelo menos não da forma clássica como a medicina enxerga a loucura. Mas sim, eu andei escrevendo coisas que nem deveria ter escrito. De qualquer forma você precisa entender que essas são as compilações que minha mente acaba por fazer. É muita informação, é muita gente conversando ao mesmo tempo, são tantas e tantas vozes que eu acabo dando vazão à elas por aqui mesmo - ok, pode ser que eu seja um pouco esquizofrênica. Mas isso não quer dizer que as coisas estejam fora do controle, antes disso.

Não falo com minha mãe faz uns cinco dias e sinto saudades dela. Mas não sou desnaturada, deixe-me explicar: a falta de contato deu-se por puro desencontro de horários. Em contrapartida (será que tem hífen?) ontem teve almoço na casa de minha tia metade da família estava reunida (o que já é alguma coisa, né?). O ponto alto: tomei espumante e meu nível para a sensibilidade alcoólica esta cada dia mais alto. O ponto baixo: já pensei em comprar umas "meias dúzias"de garrafas e estocar aqui em casa - aí é que eu descambo de vez...

Nina Simone está linda e enorme. Eu continuo sem correr por falta de companhia (sou uma dependente compulsiva das pernas alheias). As enxaquecas cessaram e nem dorzinha de ressaca eu sinto mais.

Ando querendo gostar de coisas novas, e pra isso estou me virando para descobrí-las. Porém, de uma coisa eu percebi que não abro mão: daquela velha mania de parar em frente à janela do meu quarto e admirar a vista.

Preciso confessar que, definitivamente, eu não nasci pra ficar parada. Um mês de férias me fez muito bem, obrigada, mas já cogito a possibilidade de arrumar um trabalho meio período. Estou considerando muitas possibilidades, mas a que mais me apetece seria vender côco em alguma praia bem paradisíaca.

Ah, comprei um pó de café maravilhoso e que não é nada ácido, você precisa provar. Pintei uma parede do meu quarto de roxo (ou lilás, não sei) e ela ficou simplesmente linda. Penso inclusive, e seriamente, em virar pintora de paredes.

Dia desses aí pra trás me lembrei com saudade de uma amiga que eu nunca mais vi. Não sei quem pisou na bola com quem, mas acho que meu coração é aquele tipo que esquece tudo num piscar de olhos.

Hoje seria um belo dia para uma caminhada. Aliás, se ontem a única coisa que eu faria seria receber uma massagem, ou me apaixonar, hoje eu apenas caminharia olhando para as árvores do parque.

Mande notícias.


Um abraço da amiga de sempre,

2 comentários:

Anônimo disse...

encurralado tem seu primeiro significa pelo aurelio como "meter no curral". faz sentido... a humanidade vive encurralada...
me sinto encurralado por tarefas infindáveis tarefas que crescem em pg... mas não há do que reclamar é a vida, conformismo? ou realismo?... temos basicamente 2 alternativas: sim e não; fugir ou enfrentar ... o que seria da claridade sem as trevas?
perturbado, quem é perturbado? o visual e som do link abaixo me conforta. faz sentido? sim faz o mais perturbador é acreditar em safety life

http://www.youtube.com/watch?v=GDcwBWWKGIs

Anônimo disse...

are you ready for the crazy test?

http://www.youtube.com/watch?v=_uhSSAv3o4M&NR=1