Espaços vazios em papéis que antes eram adornados com letras, palavras, sentenças e frases inteiras, que até podiam vir sem ponto final ou de interrogação ou de exclamação ou mesmo sem pontuação alguma nem mesmo uma vírgula para dar o respiro necessário e possibilitar que o leitor não leia tudo de um gole só e perca o fôlego e a graça em ler, mas que queriam dizer alguma coisa, indicam não uma falta de assunto, ou a inspiração que escorrega para a beirada do penhasco e fica perigando cair e se perder naquela infinita queda – não, antes disso: espaços vazios indicam um abandono do seu próprio eu.
Escritores nadam em águas turvas, vivem experiências em seus mundos imaginários, cantam mentalmente, rodopiam pela estratosfera e presenciam o nascimento do azul do céu sem nem tirar os pés do chão. Escritores, assim como poetas, fingem tão completamente que chegam a fingir que é dor a dor que deveras sentem.
Escritores, daqueles que acordam e dormem com seus próprios eus, respiram aliviados, mesmo que atormentados. E nem os tormentos de uma cabeça prestes a esculpir um prêmio Nobel de literatura serão capazes de tirar a paz de estar em paz com ele mesmo. É a escrita, portanto, uma das salvações, dentre muitas, que nos permite dar sempre um passo à frente, mesmo quando a vida diz não.
Mas estar em falta com seu próprio eu, no caso de nós, escritores, não significa sofrer de uma vida ingrata ou injusta. Não não. Estar em falta com seu próprio eu pode significar um abandono temporário de elucubrações, histórias, romances, dramas e comédias que acontecem diuturnamente em nossas cabeças, para ir até ali ir viver a vida boa que muitas vezes está à nossa espera, bastando dobrar a esquina.
Um casamento, duas novas gatas, planos, viagens, romance, trabalho, paixão, amor, sexo, filmes, livros... tudo isso que tinha presença garantida por aqui, através da escrita, agora faz parte do meu lar, da minha própria vida. E como meu trabalho é escrever para a publicidade, não anda me sobrando tempo para, de vez em quando, dar as caras por aqui e escrever para as "trivialidades".
Um dia, quem sabe, a novidade passa. E eu, retorno. Enquanto isso, vou vivendo a vida que me cabe e que eu mereço. E, apesar de parecer o contrário, isso também é motivo para se respirar aliviada.
4 comentários:
Bah, não sei. Lendo isso fiquei pensando no quanto mecânicas algumas coisas se tornaram na minha vida. E no percentual de tempo que eu gasto fazendo as coisas no piloto-automático. Temo que não possa existir pior fuga / abando do ser do que essa.
Desejo que você viva não somente hoje, mas enquanto fizer sentido, a sua felicidade junto da felicidade dessa outra pessoa. Porque sei como é importante e necessário, estar ao lado de quem nos faz bem, de quem amamos. Não vou me identificar, vou só dizer que vi você poucas vezes e todas em um momento muito difícil de minha vida. Não foi culpa sua e nem minha ou de outra pessoa, foi porque tinha que ser e aprendi muitas lições com tudo isso. Apesar de tudo, você quis me machucar alguma vezes, estava atrás do que acreditava ser seu e foi por um tempo. Espero que sua vida siga para caminhos que te permitam continuar o que você ama e acredita. Felicidades!
Desejo que você viva não somente hoje, mas enquanto fizer sentido, a sua felicidade junto da felicidade dessa outra pessoa. Porque sei como é importante e necessário, estar ao lado de quem nos faz bem, de quem amamos. Não vou me identificar, vou só dizer que vi você poucas vezes e todas em um momento muito difícil de minha vida. Não foi culpa sua e nem minha ou de outra pessoa, foi porque tinha que ser e aprendi muitas lições com tudo isso. Apesar de tudo, você quis me machucar alguma vezes, estava atrás do que acreditava ser seu e foi por um tempo. Espero que sua vida siga para caminhos que te permitam continuar o que você ama e acredita. Felicidades!
É verdade...um dia a novidade passa, a tristeza passa, e respiramos aliviados, como se voltassemos a nos mesmos!
Gostei do Blog.
Beijocas
Postar um comentário