terça-feira, 29 de junho de 2010

DESABAFO ARTÍSTICO

Muito mais do que no ódio sentido por alguém, é na indiferença que o ser humano se ajeita. Sim, porque amor e ódio estão ali, lado a lado. Não há como dizer que odiamos, sem antes amar - chega a ser óbvia a comparação. Ou o caminho inverso: primeiro o ódio mortal, só pra esconder um sentimento bonito, até. Aquela vontade doida de comer a pessoa inteira, engolir, ter dentro da gente e acariciar quando faz dengo. Passionalidade mode on. Natureza humana, quem explica?

Amar o diferente, ou o igual. Amar aquilo que te resgata, que te faz encarar o espelho e ter repulsa, ou vontade de amar mais e mais. Amar o sentimento amor. Amar o estado apaixonado. Amar, simplesmente amar. Ou então odiar o diferente, ou o igual. Odiar aquilo que te resgata, que te faz encarar o espelho e ter repulsa, ou vontade de odiar mais e mais. Odiar o sentimento amor. Amar o sentimento ódio. Odiar o estado apaixonado (e nessa hora vale fazer cara de nojo: bleeeergh!). Odiar, simplesmente odiar.

Pois bem, detectado que o sentimento é o mesmo, e o que muda mesmo é a forma de aplicá-lo, o ser humano tem aí um mar de possibilidades de atuação. Pode ser cínico, dissimulado, irônico, falso, amável, agradável, interesseiro... ou indiferente. E indiferença é a cama quente dos que se sentiram otários em determinadas situações. É na cama da indiferença que essas almas descansam e sonham com dias melhores, ou piores, não importa, mas sonham e buscam por dias, acima de tudo, diferentes dos já vividos.

É por isso que para os indiferentes, mais difícil que passar borracha no coração encardido e apagar inscrições que pareciam "encalacradas" na alma de cada um, mais difícil que apertar a tecla "delete" no teclado de teclas macias do notebook e exterminar com um e-mail da caixa de entrada do outlook e mais difícil que apagar o número da agenda do celular, mais difícil que tudo isso é conseguir identificar até onde um sentimento pode e deve ir, e até onde esse mesmo sentimento pode tomar conta dos seus dias, seus pensamentos, etc. Nesse ponto compactuo com Clarice: pensar é um ato, sentir é um fato.

Hoje sou uma pessoa indiferente, anteontem fui uma pessoa apaixonada, e ontem fui uma pessoa com muito ódio. E se hoje sou indiferente, faço dessa indiferença minha arte. Portanto, não me deseje feliz aniversário. Não quero o seu desejo de feliz aniversário. Não quero o seu desejo de nada. Quero apenas que você seja a pessoa mais feliz do mundo. Apenas isso. Assim como eu quero que o mendigo da esquina de casa encontre um lar, uma cama confortável e uma sopa quente neste inverno.

Se quiser continuar entrando aqui para reproduzir minhas ideias, ou melhor, tentar, porque pra fazer o que faço tem que ter muito tutano, fique à vontade. Os miseráveis sobrevivem de migalhas, os artistas sobrevivem de sua própria arte. E como sou artista, me regozijo com minhas palavras, faço delas meu escudo, me fortaleço na admiração do outro e deixo as migalhas para os fracos de alma e espírito.

É na indiferença que o ser humano se ajeita, mas é na arte que o ser humano se salva.

2 comentários:

Hélida disse...

Grande texto! "Pode" ser que algumas pessoas não gostem tanto assim....rsrsrsr
Mas que está phoda está!!!

Anônimo disse...

Sim!
Um texto que prende e ao final, liberta!
Sua fluência, ritmo, coerência me encantam...
Quem bom vê-la, lê-la, tê-la de volta.
Posso sentir como vc valorizou todas as suas vivências e experiências. Lapidou o que recebeu e nos brinda com uma prosa ainda mais madura, ainda mais mulher, ainda mais Bruna...
Receber vc é muito prazeiroso. Ser recebida por vc, da forma como vc recebe, com esta sua escuta cuidadosa, interessada, respeitosa e criativa, acrescenta vida à minha vida.

Vc não é um vício. É um sentimento maior que encontra ressonância no lugar mais sublime de meu ser.
Bruna, com vc minha alma canta!
rsrsrsrs

Amiga!
Amigos dizem: eu te amo.
Eu te amo, amiga.

Qualquer coisa, já sabe...: Minhas portas estão abertas para pessoas como vc! PARA VC!

Abraço entusiasmado.

ass.: sua costureira