Preciso fazer um desabafo grave, urgente e dolorido: estou cansada de São Paulo. Can-sa-da. Muita correria, muito stress, pouco tempo pra fazer uma série de coisas, muita poluição, muita alergia, muita gente nada a ver, muito dinheiro pra poucos e pouco dinheiro pra muitos, muito cabelo branco (em mim), enfim... é cansaço mesmo. E como sou uma pessoa que, quando se cansa, dá guinadas, estou pensando seriamente em dar mais uma. Mudar de cidade, outra capital - claro, porém mais ensolarada, menos barulhenta, com menos poluição, com menos opções - eu sei, mas com o plus das opções serem mais acessíveis e igualmente prazerosas, com mais beleza natural, mais verde e mais gente boa e "de boa". Sim, em Sampa existem pessoas maravilhosas, e os paulistanos costumam ser ótimos - isso não é ironia - mas é que, ultimamente, todas as pessoas boas e de boa com quem convivo são de fora da cidade e os paulistanos de verdade que podem ser tidos como "ótimos" eu conto nos dedos.
Enfim, o que eu quero: poder acordar de manhã, tranquilamente, e simplesmente TER TEMPO para correr os 6 km diários a que estava acostumada. E quero chegar em casa antes das 20 horas. E quero poder ver o por do sol, sentada em uma pedra, sem me preocupar se serei assaltada, ou se preciso voltar correndo para o trabalho. Quero não ter mais sinusite, nem rinite, nem tosse alérgica, nem pedra no rim, nem gastrite por conta de stress, nem nada que esteja relacionado a doenças por conta de vida sedentária e emocionalmente instável. Quero morar em uma casa com quintal e criar meus bichos, cultivar minhas plantinhas, alguns temperos, muitas flores... Quero programar uma tarde com amigos e todos eles conseguirem chegar ao destino, sem ter que me preocupar se o local escolhido é inviável por conta do trânsito (infernal) que o permeia. Ah, e as buzinas?!... meu deus, como quero me livrar dessas malditas! E também do barulho de gente que toma cerveja e faz arruaça na porta do meu prédio as 5 da manhã de uma segunda-feira. Ah, e quero urgente me livrar desses engomadinhos idiotas, que se acham os mais cool, as últimas pepsi twist light do deserto, os reis da cocada preta e mais um sem-número de nomes que usam para classificar esse pessoal hypado e detentor das opiniões mais célebres e brilhantes dos últimos tempos!
Tá, eu abro mão da comodidade que é ter uma padoca 24 horas na esquina de casa, das madrugadas na Paulista, de todo o cinema alternativo (que às vezes nem frequento como gostaria por falta de tempo e/ou grana), da vista maravilhosa que tem o meu apartamento, da possibilidade de assistir a um show internacional que só será apresentado aqui, da deselegância discreta das putas da Augusta que deveriam me inspirar, mas só fazem me dar risada, dos milhares de restaurantes interessantes e bacanas e descolados e diferentes, e, finalmente, de saber que São Paulo detém as portas que nos abrem o resto do mundo. Sim, eu sei de tudo o que estarei perdendo. Sei que perco a Vila Madalena e suas ladeiras, o Higienópolis e os judeus engraçadinhos que, aos sábados, andam com aquele chapéuzinho (eu não sei o nome, ok?), perco o parque do Ibirapuera e aquele gramado bom pra tomar um solzinho de outono... Os shoppings eu faço questão de perder, mas tenho pena de perder os brechós engraçados e os sebos cada vez maiores e melhores. Ai... que dor no coração... acabo de perder a Livraria Cultura e seus pufes, seus atendentes maravilhosos, seu acervo gigantesco e toda a cultura que respiro quando coloco os pés naquele tapete de quadrados grandes. Ai ai...
Perco tantas coisas... e ganho outras mil. Perdas e ganhos, escolhas e renúncias.
Ainda não me decidi a capital, e nem quando (e se) me mudo. Estou entre duas cidades - no Sudeste, claro, e vou começar a colocar na ponta do lápis os prós e contras. Por enquanto, vou percebendo e tateando o sentido que faz eu ainda morar aqui, se ainda tem algum, ou se posso (e tenho disposição) para criar novos. Por enquanto vou desabafando e aceitando sugestões, seja de outras cidades legais para morar, seja de pontos de vista que Sampa ainda compensa o esforço.
Enfim... é só um desabafo e um esboço dos meus planos.